segunda-feira, 21 de julho de 2008

O que é Nacional podia ser bem pior... - Fecho


A Ivete Sangalo é bonita. A Ivete Sangalo é enérgica. A Ivete Sangalo é simpática. A Ivete Sangalo usa vestidos pretos colantes. A Ivete Sangalo é um furacão. A Ivete Sangalo é boa onda. A Ivete Sangalo tem ritmo. A Ivete Sangalo tem boas músicas. A Ivete Sangalo é capaz de transformar a área de acamados do Santa Maria numa verdadeira escola de samba.

Mas a Ivete Sangalo não percebe nada de literatura.
Se percebesse, jamais cantaria isto:

"É de babaixar,é de balacobaca
É de babaixar,é de balacobaca
Tê,têretete
Oh!
(...)
Eu vou enfiar uva no céu da sua boca,
Eu vou enfiar uva no céu da sua boca
(...)
E ai chupa toda
Disse Toda
Chupa Toda
Disse toda
Chupa Toda!"


Sem comentários.
"Passar bem!"

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O que é Nacional podia ser bem pior... - ParteII

Foram algumas as reacções positivas ao último tema. E embora haja outros assuntos merecedores da nossa atenção, quer-me parecer que estas análises semânticas de musica brega combinam bem com o fim de semana.

Assim sendo, meus amigos, cá vai mais uma.
Os senhores da foto ao lado dão pelo nome de Bruno e Marrone. E para além de demonstrarem, na cor da indumentária e do sorriso, um estado crítico de Robertolealite aguda, são os responsáveis por mais um sucesso estival da música sertaneja.

Dá pelo nome de “Dormi na Praça”. Supostamente, é mais uma daquelas músicas de dor-de-corno em que um homem chora o seu sofrimento por um amor não correspondido.
E embora o poema da canção sugira que o protagonista está perdidamente apaixonado por uma dama, a letra tem toda uma mensagem subliminal que merece uma cuidada interpretação.

Senão vejamos esta estrofe:

“No sonho, você veio provocante
Me deu um beijo doce e me abraçou
E bem na hora "H", no ponto alto do amor
Já era dia... o guarda me acordou...”

Ou seja, o sujeito em causa nunca especifica o género do seu/sua parceiro/a, pelo que poderia perfeitamente tratar-se de um homem. Até porque, pelo que consta no último verso, a cena ter-se-à desenrolado numa cela prisional... Porventura com o próprio guarda.

A tese ganha especial força no refrão:

“Seu guarda
Eu não sou vagabundo
Eu não sou delinquente
Sou um cara carente”

O protagonista aprofunda a sua relação com o guarda tentando atraír para si os afectos do mesmo. Na tentativa de seduzir o agente da autoridade, exulta as suas próprias qualidades afirmando que é fiel -“não sou vagabundo”- e pessoa de bem -“não sou delinquente”- mais: afirma a sua necessidade obcessiva de ter um companheiro -“Sou um cara carente”.

“Eu dormi na praça
Pensando nela”

Analisemos: se o protagonista estivesse realmente interessado na dama, porque estaria a dormir na praça? A dama trabalha na praça? É vendedeira de repolhos? Se o protagonista tenta uma relação amorosa com a senhora, não seria mais produtivo dormir mais próximo dela?... Que abordagem à sua donzela é esta que implica dormir ao relento e declarar-se como carente a um agente da autoridade?
O protagonista esconde os seus verdadeiros intentos! “Pensar nela” não vai resolver nada... dormir na praça muito menos. E se dúvidas houvesse quanto às verdadeiras intenções do cantor, o resto do refrão tudo esclarece:

"Seu guarda
Seja meu amigo
Me bata, me prenda
Faça tudo comigo
Mas não me deixe
Ficar sem ela...”

EH LÁ!... Uma coisa é assumir uma orientação sexual. Nada em contrário. Agora outra é aproveitar uma musiqueta de tesão-do-mijo para ilustrar uma relação homossexual violenta com um agente da autoridade!... Que é isto? "Fist Fucking" versão "esquadra-de-sacavém"?

É que a partir daqui, já não adianta dizer mais nada.
A partir daqui, tudo é válido.
E mesmo quando ele termina, em desespero, bradando: “Mas não me deixe, ficar sem ela” o que é que nos garante que se refere a uma mulher?... este raciocínio está irremediavelmente condenado pela incoerência.
Muito mais provável é que se esteja a referir a alguma prática sexual: "Não me deixe ficar sem ela!" Ela quem? A Dona penetração? A Senhora ejaculação? ou a Menina Erecção?

Por isso, meus queridos leitores, lembrem-se desta dissertação da próxima vez que virem as moçoilas roliças dos bailes cantarem esta cantiga a plenos pulmões olhando embevecidas para seus namorados.

"Passar bem"

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O que é Nacional podia ser bem pior...

Eu sei que um dos meus primeiros posts pôs um pouco o dedo na ferida da auto-estima nacional.
Assim, sendo, tenho de começar a desanuviar um pouco o meu senso crítico, sob pena de este blog deixar de ser lido por cidadãos lusos e passar a ser motivo de regozijo para nações que estão habituadas a “dar-nos bailinho” como a França, a Espanha, a Alemanha ou, porque não dizê-lo, a Madeira.

Para levantar a nossa auto-estima não há nada como ir ao nosso bas-fond cultural e comparar com a porcaria toda que vem lá de fora. Nomeadamente do Brasil, a quem agora fazemos o favor de “ajeitar” o nosso idioma com um novo acordo ortográfico.
Há muita gente que ainda diz que é alérgica a musica Pimba, que não canta refrões do Quim Barreiros ou do Tony Carreira, que foge do Emanuel como o diabo foge da Cruz...
...mas que em qualquer baile de finalistas ou viagem pelo nordeste brasileiro canta “Musica Sertaneja” como se fosse o Hino Nacional.

Ora isto está errado. E a todas essas pessoas (e são muitas) aconselho a ouvirem e a cantarem com a mesma paixão qualquer xaropada do Marco Paulo que estarão melhor servidas.
Porque se a qualidade musical é idêntica, só muda a sapiência das palavras. E entre a dúvida de afectos estampada nesse sofredor acto de contrição que é “Eu tenho dois amores” ou esse pungente apelo temperado de coita de amor que dá pelo nome de “Maravilhoso Coração”, encontraremos sempre melhor poesia do que em qualquer êxito de Verão como este:

“E digo o que ela significa pra mim
Ela é um morango aqui no nordeste
Tu sabes não existe sou cabra da peste
Apesar de colher as batatas da terra
Com essa mulher eu vou até pra guerra”

Nas sábias palavras de António Raminhos: “Que é esta merda?”
  • Erro nº1 – O que raio é que os morangos têm de tão atraente para serem usados como termo de comparação para a beleza feminina.
    O morango é uma coisa tão rara no nordeste brasileiro?
    Esta letra é válida para quem não gosta de morangos?
  • Erro nº2 – O poeta expressa nesta música a sua adoração por uma mulher, mas ele próprio não sabe bem onde se situar no mapa sexual. Afinal de contas, no 3º verso ele não só se afirma como uma mulher devassa -“cabra”- com doenças venéreas -“da peste”- como ainda por cima lança suspeitas sobre a sua própria existência “tu sabes não existe”.
  • Erro nº3 – Toda a construção gramatical deste 3º verso desafia as regras do português tanto ou mais quanto os seios da Madonna desafiam a lei da gravidade.
  • Erro nº4 – Qual é o problema de colher as batatas da terra?... É defeito? É pouco sensual?
    Quem não se excita a ver uma mulher a fazer trabalho braçal? O que eu me inebriei de excitação ao ver a Maria Fernanda Cândido lavando roupa, a Sophia Loren cortando tomates, ou qualquer briga de gajas na lama?

    O que há de menos digno em colher batatas na Terra?
    A minha avó colhia batatas da terra, e não me lembro de mulher mais linda!
    ...Sobretudo quando a via a brigar na lama!

Mais exemplos nos próximos posts.
"Passar bem!"

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Alguns são mais iguais que outros


De entre frases mais sábias que foram escritas no âmbito da sátira política e crítica de costumes, destaca-se esta pérola de George Orwell: "Todos os animais nascem iguais... mas alguns são mais iguais do que outros".

Ao ver esta imagem, ao ler o artigo do DN, irresistívelmente, começou a ressoar nos meus tímpanos o título da obra... as frases marcantes... a saga demente de "Napoleão" à conquista do poder na "Animal Farm".

Ao ver esta imagem tão animada, tão sã de convivência, tão bem-disposta quanto a jantarada que ontem tive... e ao ler o dissonante conteúdo que se lhe associava, lá ficou estampado o título da obra de Orwell, um dos poucos que fica melhor em português do que no original: esta imagem servia de capa a uma edição de "O TRIUNFO DOS PORCOS".

Ao olhar para ela, e ao saber do que se tratava, sem que pudesse evitar, o nariz de Bush se arreganhou num focinho, as pernas de Gordon Brown em presuntos se transformaram, e até mesmo o Sarkozy, que de roliço não tem nada, inchou e assumiu uns dotes de leitãozinho.
Curioso... não notei que o Berlusconi tivesse mudado... deve ser do hábito.

Não é que ache mal gastar 300 Euros por cabeça num jantar do G8. Para o nível habitual nestas coisas de jantar de gala até está dentro da média. A sério.
Não é que ache assim tão reprovável quanto a imprensa escarrapacha, os cinco vinhos "Chateau-de-la-Trop-Cher-Chose" que cada um beberricou.
Acho é que é uma alegoria perfeita para com aquilo que se passa no final do livro: olhamos de homem para porco, de porco para homem, e já não percebemos a diferença.

Acima de tudo o que eu queria era o seguinte: que fizessem menos alarde de que estavam ali para combater a fome e o aumento do preço dos alimentos, que falassem menos sobre o aumento dos preços do petróleo, que dissessem que se estão a cagar para o sufoco da classe média, até podiam declarar formalmente que aquela coisa com porrada, corrupção e SIDA que o Mugabe governa podia continuar nesse estado mais uns anos que não é problema dos brancos...
...não me importava...

...desde que fizessem a cimeira dos G8 numa tenda no Darfur.
...isso é que era, hã?


Mais um dia na Terra da Oportunidade Perdida.

Portugal é um país de Merda.
Não tem um quotidiano de merda... isso são os ingleses.
Não tem uma história de merda... isso são os alemães e os americanos.
Não tem um temperamento de merda... isso é com os espanhóis e franceses.

Mas é um país de merda. Porque nada funciona.
A justiça não funciona, o meritocracia não funciona, a democracia não funciona, a economia não funciona.

Li há uns tempos que o problema de Portugal era meramente geográfico. Nós achamos que somos a mais atrasada nação da União Europeia. Mas na verdade somos o mais avançado dos países africanos.
Também acho isto uma treta. Típica de quem gosta de escrever sobre Portugal com o distanciamento de quem se acha estrangeiro, muito embora cá viva, cá tenha nascido e cá respire.

Não que eu tenha esse problema. Era suposto eu ser Dinamarquês. A culpa é toda dos meus pais.

O que me dói mesmo é sermos um povo decente, num país de merda.
Gosto cada vez mais de emigrantes. A sério.
Gosto de os ver. Trabalhando lá fora, tendo sucesso, e tendo saudades de Portugal como se valesse mesmo a pena. Não há nada como a distância para realçar o lado romântico da coisa.
Sei como é, quando viajo. Mesmo que esteja em sítios em tudo superiores.

É. Não acredito em raças superiores... mas não me venham com tretas. Há culturas superiores e há educações superiores.

Acima de tudo, há organizações superiores.

Quem me dera que Portugal funcionasse. Um povo meio-termo, nem louro nem moreno, nem árabe nem nórdico, nem alto nem baixo, nem rico nem pobre... bem no meio, bem na virtude... com este solzinho num país que funcionasse bem.

Que colocasse os melhores de nós no governo, em vez de lá colocar os mais incompetentes e inaptos.
Que fosse capaz de vigiar concursos públicos.
Que tivesse força para condenar corruptos.
Que soubesse ter energia para apreciar cultura.

Não era muito difícil. Um povo meio-termo como o nosso. Num país que... funcionasse.
Assim tipo... a Irlanda.

Era tão bom não era?
Mas não é. Somos um povo até com algum encanto, enfiado num país de merda. E como achamos que é uma fatalidade estarmos enfiados num país de merda, nada fazemos.

Por isso, da mesma forma que os Estados Unidos são a terra da oportunidade nós somos a terra da oportunidade perdida. Orgulhosamente. Há centenas de anos.

Feliz debate do estado da nação a todos.
Que haja uma praga de pombos incontinentes dentro da assembleia.
É o que todos mereciam...

...Mas não me liguem.
Hoje a primeira coisa que ouvi na rádio foi o ministro dos assuntos parlamentares a falar de esperança.
Depois fiquei assim.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

No princípio...


Gosto de começos...

Talvez por isso tenha tanto a mania de começar coisas.
De criar.

De inventar... desde pequeno.

As páginas em branco não me costumam meter medo. Dão-me é uma vontade enorme de começar a rabiscá-las.

Este é o primeiro dia do meu blog.

Espero que nunca haja um último.

Espero que todos os dias haja aqui um começo diferente...

Até já.