segunda-feira, 14 de julho de 2008

O que é Nacional podia ser bem pior... - ParteII

Foram algumas as reacções positivas ao último tema. E embora haja outros assuntos merecedores da nossa atenção, quer-me parecer que estas análises semânticas de musica brega combinam bem com o fim de semana.

Assim sendo, meus amigos, cá vai mais uma.
Os senhores da foto ao lado dão pelo nome de Bruno e Marrone. E para além de demonstrarem, na cor da indumentária e do sorriso, um estado crítico de Robertolealite aguda, são os responsáveis por mais um sucesso estival da música sertaneja.

Dá pelo nome de “Dormi na Praça”. Supostamente, é mais uma daquelas músicas de dor-de-corno em que um homem chora o seu sofrimento por um amor não correspondido.
E embora o poema da canção sugira que o protagonista está perdidamente apaixonado por uma dama, a letra tem toda uma mensagem subliminal que merece uma cuidada interpretação.

Senão vejamos esta estrofe:

“No sonho, você veio provocante
Me deu um beijo doce e me abraçou
E bem na hora "H", no ponto alto do amor
Já era dia... o guarda me acordou...”

Ou seja, o sujeito em causa nunca especifica o género do seu/sua parceiro/a, pelo que poderia perfeitamente tratar-se de um homem. Até porque, pelo que consta no último verso, a cena ter-se-à desenrolado numa cela prisional... Porventura com o próprio guarda.

A tese ganha especial força no refrão:

“Seu guarda
Eu não sou vagabundo
Eu não sou delinquente
Sou um cara carente”

O protagonista aprofunda a sua relação com o guarda tentando atraír para si os afectos do mesmo. Na tentativa de seduzir o agente da autoridade, exulta as suas próprias qualidades afirmando que é fiel -“não sou vagabundo”- e pessoa de bem -“não sou delinquente”- mais: afirma a sua necessidade obcessiva de ter um companheiro -“Sou um cara carente”.

“Eu dormi na praça
Pensando nela”

Analisemos: se o protagonista estivesse realmente interessado na dama, porque estaria a dormir na praça? A dama trabalha na praça? É vendedeira de repolhos? Se o protagonista tenta uma relação amorosa com a senhora, não seria mais produtivo dormir mais próximo dela?... Que abordagem à sua donzela é esta que implica dormir ao relento e declarar-se como carente a um agente da autoridade?
O protagonista esconde os seus verdadeiros intentos! “Pensar nela” não vai resolver nada... dormir na praça muito menos. E se dúvidas houvesse quanto às verdadeiras intenções do cantor, o resto do refrão tudo esclarece:

"Seu guarda
Seja meu amigo
Me bata, me prenda
Faça tudo comigo
Mas não me deixe
Ficar sem ela...”

EH LÁ!... Uma coisa é assumir uma orientação sexual. Nada em contrário. Agora outra é aproveitar uma musiqueta de tesão-do-mijo para ilustrar uma relação homossexual violenta com um agente da autoridade!... Que é isto? "Fist Fucking" versão "esquadra-de-sacavém"?

É que a partir daqui, já não adianta dizer mais nada.
A partir daqui, tudo é válido.
E mesmo quando ele termina, em desespero, bradando: “Mas não me deixe, ficar sem ela” o que é que nos garante que se refere a uma mulher?... este raciocínio está irremediavelmente condenado pela incoerência.
Muito mais provável é que se esteja a referir a alguma prática sexual: "Não me deixe ficar sem ela!" Ela quem? A Dona penetração? A Senhora ejaculação? ou a Menina Erecção?

Por isso, meus queridos leitores, lembrem-se desta dissertação da próxima vez que virem as moçoilas roliças dos bailes cantarem esta cantiga a plenos pulmões olhando embevecidas para seus namorados.

"Passar bem"

4 comentários:

Paula disse...

Bem... Pensando que talvez o moçoilo seja hetero (talvez), podia estar a referir-se a uma praça de táxis e a dama dele pode não ser vendedeira de repolhos e sim, taxista.
Estas letras dão pano para mangas. Ou dissertações filosóficas.
:)
Bjs!

Anónimo disse...

A cara laroca dos cantautores já é sugestiva e depois de passar os olhos pela respectiva letra penso que tirei todas a duvidas. Mas pronto, no mundo actual é preciso aceitar as coisas como elas são. Quem não vai gostar é a DRA Ferreira Leite pois este é um daqueles casos de casamento com cópula mas sem reprodução. Dos tais casos que ela abomina e acho que o neto tambem.

abraço

JPinto disse...

A foto deles não deixa margem para dúvidas! Esta é sem dúvida,uma letra manhosa com uma mensagem subliminar implícita. Espero que não levem os nossos jovens a adoptar estes comportamentos...


A propósito, é verdade que és o único gajo vivo que aparece na RTP Memória?... :p (não me batas... a culpa é do Raminhos)


Já adicionei o teu blog nos links do Carimbo Azul . Quando puderes passa por lá.


Abraço

Anónimo disse...

Belíssima - e profunda -dissertação, meu caro Pedro.

Grande abraço.